terça-feira, 30 de novembro de 2010

disse que me disse: Jane Jacobs e LAP

Jane Jacobs, autora do livro Morte e vida das grandes cidades aborda o tema da segurança e de como as calçadas são fundamentais para a manutenção da mesma. Quando dizemos que uma cidade não é segura, estamos nos referindo às suas calçadas. O principal ponto da argumentação de Jacobs é a presença de desconhecidos como importante:
"O principal atributo de um distrito urbano próspero é que as pessoas se sintam seguras  e protegidas na rua em meio a tantos desconhecidos (JACOBS, 2000, p. 30)"
Jacobs defende que a manutenção da segurança não é feita pela polícia (ou pelo menos não apenas por ela, que também é necessária), mas …
"[...]pela rede intrincada, quase inconsciente, de controles e padrões de comportamento espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados. (JACOBS, 2000, p. 32)"
Ela propõe, então, três condições para que haja pessoas suficientemente nas ruas de forma que elas exerçam a vigilância natural sobre os espaços públicos e, com isso, diminuam a violência:
  1. Deve ser nítida a separação entre o espaço público e o espaço privado;
  2. Devem existir os olhos da rua;
  3. A calçada deve ter usuários transitando ininterruptamente.
Os olhos da rua são as pessoas que, consciente ou inconscientemente, utilizam o espaço público e/ou costumam contemplá-los de suas casas, exercendo uma vigilância natural sobre o que ali acontece. Jacobs cita como contra-exemplo alguns edifícios muito verticalizados, em que os corredores eram inacessíveis aos olhos, apesar de serem de acesso público, e por isso sofriam enormemente com a depredação e a violência.

A partir dos conceitos da autora, posso perceber nos trabalhos do LAP (Laboratório de Arquitetura Pública da UFMG) uma estreita relação. Os projetos que o grupo vem elaborando traduz muito bem os conceito de Jacobs.
O LAP procura criar o conceito de paisagem cultural no imaginário da população: como alguns locais ícones da cidade são relacionados pelas pessoas e qual o significado posto por elas sobre estes espaços? A arte, a religião, por exemplo, são produtores deste campo de significação do mundo.
Criou-se projetos para intevenções na cidade do Serro que propõe reabilitações de áreas livres e requalificação de paisagem cultural. Locais como a Bica das Lavadeiras, traz este conceito de olhos da rua:
As lavadeiras utilizam o espaço, desde muito tempo, para lavar a roupa, converrsar e encontrar conhecidos, enquanto crianças brincam na água e passam por ali. Elas, sem perceber, vêem tudo que acontece na rua, e como aquele é um espaço comunitário, cuidam dele para no dia seguinte poderem utilizar novamente.
Pensando nas lavadeiras, a prefeitura criou um quarto ao lado com vários tanques e água potável, mas era um local escuro, e que mais separava as mulheres que uniam. Logo, o lugar ficou depredado por vândalos. Assim, a intervenção sugerida era de tentar ampliar aquele espaço de convivência, mas que ele pudesse também ser de todos e que atendesse ás necessidades das lavadeiras.
As pessoas que ali frequentam ou passam têm um papel imprescindível como "os olhos da rua" no centro de Serro e o grupo LAP soube perceber muito sensivelmente essa relação.

fonte:

SABOYA, Renata. Segurança nas cidades: Jane Jacobs e os olhos da rua. Urbanidades. 10 fev. 2010 Disponível em: <http://urbanidades.arq.br/2010/02/seguranca-nas-cidades-jane-jacobs-e-os-olhos-da-rua/>. Acesso em: 30 nov. 2010.

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